segunda-feira, 3 de maio de 2010

O primeiro mês

Os primeiros dias foram de euforia. Uma alegria, uma ligação total. Um barato total! São os hormônios né? Você chegou e confesso que tomou conta de mim uma emoção sem fim. Nos primeiros 10 dias olhava o berço e via você dentro e chorava, chorava de alegria. Sabe quando você é criança e espera o presente de Natal no dia 25? Aquele que você queria desde o último Natal? Pois, a sua chegada foi se como se eu tivesse recebido todos os presentes de Natal da minha vida inteira. E aí a menina que parece um pouco estranha nos primeiros dias, vai virando a pessoa mais íntima do mundo. O seu olhar enquanto mama é digno do samba-canção de Tom Jobim.

E você segue crescendo. Eu vou te alimentando no peito, seu pai vai criando uma intimidade com você e nós juntos na empreitada que é a sua vida. A nossa vida agora é viver pela sua. Momentos de dedicação total. Migalhas de sono, tudo muito novo mas também muito tranquilo. As pessoas fazem um bicho danado... Dá trabalho, sim dá trabalho o conjunto peito, arroto, cocô, sono e falta dele e todas as coisas que não sabemos o que é. Mas nós vamos tentando e você segue sobrevivendo à gente. Viva!

Obs.: O médico mandou que eu cantasse para você. Estimula a sua inteligência. Então vamos lá: para mim nada melhor do cantar para você às 6h da manhã. Todas as músicas que sempre sonhei, com você aninhanda nos meus braços, melhor do que sempre sonhei!

domingo, 18 de abril de 2010

O parto

Hospital Santa Joana, 26 de março de 2010
8h - Uma noite mal dormida, uma ansiedade absurda. Mistura de medo, de alegria, de alívio... Lá vem o pipoco do trovão! O maior amor do mundo. Para isso, vou fazer uma cirurgia. Coisa que nunca fiz na vida. Dá um medinho aliviado porque quero logo conhecer você. O Nego parece (só parece) tranquilo, suas avós estão loucas, seu avô também. Antes de sair de casa, fotografei o bucho. Último registro da sua estrada dentro de mim.

11h - Os médicos já vieram aqui. Estão todos prontos. A anestesista me explicou tudo. Onde vai me furar, todo o procedimento. Aviso que quero ficar consciente, quero ver tudo. Ok. Seu avô tá conversando o tempo todo. Conversas amenas para minar o nervoso. Bata cirúrgica, fotografias finais. Bora nessa, o Nego vai com a gente.

12h - Bloco cirúrgico, fura aqui, senta assim, fura acolá. Respiro e me concentro para ficar calma, Já não sinto as pernas, pode cortar! O Nego aqui junto. E aí já começou? O rosto tá coçando, é reação à morfina. Tô ficando tonta, ai ai. Oxigênio pra aliviar. E aí?

12h39 - Chegou, olha ela! É galega! Uêêê. Um choro alto, eis que você surge do pano azul. Colocam você perto de mim, você se acalma, sinto a sua pele. Um veludo. Ufa, parece estar tudo bem. Oi filha, seja bem vinda. Eu sei que você sabe, mas eu sou sua mãe. Vamos seguir juntas nessa vida, num caminho gostoso como o veludo da sua pele. Fico feliz que você me reconhece, que se acalma com o meu toque. Estou aqui filha, pra te proteger, pra te amar... Te levam pros procedimentos iniciais. Fico sentindo a sua pele. Ai que alívio, tá tudo certo. O Nego tá aqui. Nós 3. Sua família, nosso amor.

Alguns minutos e muito choro seu depois - Oi, você novamente, que bom. Dr. Zé Henrique veio te colocar no meu peito. Venha, ele é todo seu. Que linda que você é, toda perfeitinha, sua deliciosa pele de veludo, seu carinha amassada, o meu sangue ainda em você. Pronto levaram você novamente.

+ ou - meia hora depois - As médicas conversam potoca enquanto terminam o procedimento. Eu estou meio não sei que lá. Mistura da anestesia com você. As médicas terminam e vão embora. Beijos, parabéns, ela é linda e tchau. Ficamos eu e uma enfermeira na sala vazia.

À tarde, sem noção da hora - voltei para o quarto. Muitos beijos, abraços, e eu não posso falar. Ninguém me deixa falar. Cadê você que não chega. Sono, rostos conhecidos. Tô meio grogue. Você chega, vem pro peito, pega um pouco. Vai pro berço. Todos vem te ver. Você é lindamente rosa... E assim o dia segue, entre você, o peito, o povo e não poder falar...

Véspera do parto

Poço da Panela, 25 de março de 2010
Lá vamos nós! Fizemos mais uma ultra e além de não estar encaixada, está laçada. Pressão continua alta, menina já tá formada, Dr Tânia fala que não podemos mais esperar. Gostar, eu não gostei. Queria muito entrar em trabalho de parto. Queria sentir você dizendo que era a hora. Queria fazer a força que tanto me preparei. Mas, de quando em vez nessa vida, as coisas não são como a gente quer. São como são.

Já sinto você se animando pra vir. Cólicas e contrações sem dor. Sei que está bem pertinho... Mas não podemos mais esperar por um capricho meu. Por uma vontade minha. Agora não mando mais, quem manda é você. O mais importante é que você venha com saúde. Então tá, vamos pra faca. Falamos com Dr Tania por telefone e o bloco cirúrgico está reservado, equipe médica avisada, 12h. A data do seu aniversário será 26 de março.

domingo, 21 de março de 2010

Nos finalmente do bucho

Últimos momentos do bucho. Já sinto cólicas há alguns dias, acho que é você se encaixando pra sair. Ficar de repouso tem me ajudado a te sentir. Sei dos seus horários, dos seus soluços e do seu trabalho de encaixe. Temos conversado bastante no nosso repouso. Todas as mães falam que vou sentir saudade da barriga. Confesso que não acredito muito nisso não... Mas por via das dúvidas estou sentindo você aqui dentro com todo o dengo possível.

Bora nessa, filhota que aqui fora estamos prontos pra te receber. Seu pai está um fofo. Na maior função com o nosso repouso, até jardinagem está fazendo!!! Isso sem falar da feira, de levar pra fazer exame, médicos, de pegar suas coisinhas e ainda dar o maior dengo possível porque os hormônios da mãe não são fáceis:)))

Amanhã vamos em Dr Tania. Mais um toque pra saber se você encaixou e se já está pertinho, mais uma aferida de pressão pra saber se está tudo controlado.

terça-feira, 16 de março de 2010

É muita pressão

Ela tá alta. Estamos tomando remédio e ficando de repouso. No início moderado, agora absoluto. Isso quer dizer ver a vida na horizontal.

Minha amiga Neusa disse que tinha que ter escrito tudo que rolou com ela grávida para ela se lembrar depois. Ela não escreveu, esqueceu de tudo e agora está com o segundo bucho. Gigante.

As minhas quizilas foram:
Sangramento - pequeno sangramento no início
Túnel do carpo - dor na mão
Alta na glicose - não chegou a ser uma diabetes gestacional mas parei o açucar total
Inchaço - nas pernas e nariz de porrote
Pele - fiquei com sinais mais escuros
Pressão alta - a partir da 34 semana fiquei com a pressão alta e estou desde o dia 25 de fevereiro de repouso. Para mim, isso tá sendo muito difícil. Mas já está perto de terminar.
Azia - básica e clássica às 17h.

Bem, brincando do jogo do contente, até que tá bom visto que não vomitei, que passei um tempo super me sentindo bem, que não tive ameaça de aborto e melhor de tudo: Inês está super saudável aqui dentro. Para a minha pessoa: tá até bom porque fiquei com o cabelo mais bonito, fiquei me achando mais mais e o melhor de tudo, que todo mundo diz que qd você olha aquele ser, tudo passa.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Como o Capibaribe

Meu Tio, aquele que é o cara, aquele que tava doente que eu falei em um post abaixo. Pois é, a Caetana veio mesmo e levou ele. Antes da foto esperada, mas o tempo suficiente de um sofrimento que parecia sem fim. Foi no final de fevereiro. Durante todo o mês fiquei indo lá, dando massagem nos pés, ouvindo os últimos conselhos, ganhando os últimos sorrisos. Só isso já valeu a pena.

As pessoas diziam para não ir, que era muito para mim e para a pequena Inês aqui dentro. Mas eu não podia deixar de viver aquilo. Não poderia deixar de ajudar e principalmente deixar de sentir e dar amor. Um amor que transborda isso que é a palavra. Um amor que tá lá no fundo do olho, num brilho de segundo, num sorriso de satisfação, no suspiro pós pontada de dor. No toque que é na mão, mas chega mesmo é na alma.

Sei que Inês sentiu isso profundamente. Sei que sentiu tristeza mas que também sentiu um amor profundo. E num domingo, a respiração parou em um hospital da cidade. No mesmo domingo nascia Alice, filha de Mari Asfora. E eu soube disso passando pela ponte, sobre o Capibaribe. Olhei pro rio, que seguei seu fluxo. Chorei de tristeza, de alegria, mas entendi o essencial: assim como o rio, a vida segue seu rumo e não dá pra nadar contra a correnteza. Vamos nessa transbordar isso que a gente é na imensidão do mar.

De sequela física, a pressão subiu e estou de repouso absoluto. Já fizemos muitos exames e está tudo ótimo com ela. Estamos aqui deitadinhas esperando a hora. Esperando para termos parto normal (ou pelo menos tentarmos).


Dona Cila
Maria Gadú

De todo o amor que eu tenho
Metade foi tu que me deu
Salvando minh`alma da vida
Sorrindo e fazendo o meu eu

Se queres partir ir embora
Me olha da onde estiver
Que eu vou te mostrar que eu to pronta
Me colha madura do pé

Salve, salve essa nega
Que axé ela tem
Te carrego no colo e te dou minha mão
Minha vida depende só do teu encanto
Cila pode ir tranquila
Teu rebanho tá pronto


Teu olho que brilha e não para
Tuas mãos de fazer tudo e até
A vida que chamo de minha
Neguinha, te encontro na fé

Me mostre um caminho agora
Um jeito de estar sem você
O apego não quer ir embora
Diaxo, ele tem que querer

Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um banto a ela, que ela me benze aonde eu for

O fardo pesado que levas
Desagua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Quase reta final

Tá pertinho. Mala da maternidade arrumada, desejos e curiosidades devidamente embalados. Chegamos nos 8 meses. O berço chega hoje. O programa de sábado vai ser montar o cantinho dela. Da menina que já governa meu corpo e meu juízo. Vai governar meu tempo. E todo o querer bem. Viva!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Viva Glória!

Mandamos fazer vestidinho, fizemos as unhas, secamos a franja e colocamos enfeite na cabeça. Mis-en-plis completo.

No caminho, compramos Líber e botamos pra gelar. Sabíamos do calor que ia ser, e foi. Marquei com a noiva a entrega do estandarte. Ela foi lá, me entregou, o jornal fotografou e publicou.

Tentei ficar pianinho, mais sentadinha por conta do bucho que já tá chegando nos 8 meses. Não deu muito certo. Vai subindo um sei-lá-o-quê, quando ouço os acordes de Momo, vejo um mar de imaginários verdes, em diferentes tons, de variados anos. Como esperanças, como um reforço à alegria, à amizade, ao querer bem. Lembrando sempre que a gente pode e deve sentir esse comichão das variadas formas, cada um no seu tom.

Saímos do mercado levando o estandarte, filha. Pulamos uns 15 minutos. Frevei, mas não foi até o chão não, tá? Não se assuste, o estandarte é o pequeno, o bem levinho. É tão lindo filhota quando ele gira no ar, e dá uns pulos e se remexe todo como uma extensão do corpo. É leve e ele flutua. Feito você, filhotinha, que tá aqui dentro flutuando, se remexendo, fazendo o seu carnaval.

Que venha, meu amor, vários carnavais cheios de manhã de sol floridas e finais de tarde luminosos. Em todos os tons que puder. Que venha cheio de alegria e saúde!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Num fogo só

Eu tô assim. Como no título. Doida querendo pular carnaval, trabalhando que só, na maior disposição e me sentindo muito bem. Mês passado eu num tava assim não. A dor nas mãos estava me deixando desesperada, a glicose tinha aumentado e eu já tava mesmo era impaciente de estar grávida. "Ficar grávida é bom, mas dura muito", como disse um dia a minha amiga Keka.

Agora não. Depois de diversas sessões de fisioterapia, uma mudança na alimentação, estou me sentindo melhor. A barriga tá crescendo e com ela a minha vontade de fazer e viver as coisas e as pessoas. Digamos que uma certa urgência. Talvez pela "ameaça" constante de que a sua vida vai mudar radicalmente. Que além desse tempo que dura a gravidez ainda tem a amamentação, e as noites sem sono e, ainda, depois todos os outros "aperreios" da criança. Parece que você nunca mais vai se ter de volta.

Mas ao mesmo tempo penso que essa "ameaça" é a do amor. Me parece que essa paixão avassaladora da maternidade/paternidade é que deixa o povo meio doido. Sei não... Só sei que estou tentando viver isso da melhor forma que eu consigo. E fico sempre pensando em ser leve e simples porque tudo é do tamanho que a gente faz.

Talvez eu nunca mais seja SÓ aquela Carol. Vou me ter de volta sim, só que somada a essa criatura que já se mexe e remexe aqui dentro.

A palavra do ano