quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Quando não se finda

Na semana anterior ao carnaval meu companheiro de trabalho, partiu. Vencido por um câncer fulminante, meu velho Teo se foi. Um gigante! Tive a sorte de conviver quase que diariamente com ele nos últimos 4 anos. Era minha “pareia”. Não tê-lo mais no contato diário dá uma dor de rachar o peito. Agora ter tido a oportunidade de viver tão intensamente com ele, me dá um orgulho maior ainda do que essa dor que uma hora, tenho certeza, vai desistir de latejar.

Ele é um cara incrível. Um cara do bem. Tomamos muitas juntas, rimos demais, criamos juntos e mais do que tudo isso, sempre tivemos fé nas pessoas e achamos as belezas nelas. Ele no enquadramento, na imagem e eu na palavra. Quase sempre a gente voltou com uma sensação boa que move essa nossa vontade de trabalhar.

Teo morou em Angola. Filmou a guerra e o processo de pacificação. Passou por caminhos difíceis, escapando de minas pra denunciar as condições daquele povo. Ensinou muita gente lá a se comunicar usando as lentes da câmera. Fez escola.

Ele tem lá aquele jeitinho de professor. Um pouco reservado, parece tímido, mas quando ele bota o bigode pra frente fazendo bico, abre o sorriso e o olho brilha você descobre que a reserva é puro charme.

Eu falo tudo dele no presente. Todas as lembranças estão guardadas no fundo falso da gaveta do coração que é pra ninguém levar. São minhas. São lindas. No carnaval a chuva chorou demais. Não tenho mais as imagens dele, mas a imagem dele está guardada para sempre em mim. Uma aluna desse professor que me ensinou a ver o mundo um pouco mais simples. Quem me ensinou a gostar de baobás e saber onde eles ficam, me ensinou caminhos de barracas pra tomar cana e me ensinou o respeito do silêncio.

Fica com Deus, meu velho. E pode ter certeza que, como os baobás, as pessoas vivem milhares de anos. Só morre quem a gente quer e como só eu tenho o caminho do fundo falso da minha gaveta, você não vai morrer nunca.