segunda-feira, 18 de junho de 2007

Eu e Salete, no mesmo caminho

Será que tenho vontade e sensibilidade pra ficar atualizando esse blog? Depois que voltei, tento escrever mas não sai muita coisa. Tenho estado pouco só pra refletir. Pra olhar o mundo e pensar um tiquinho sobre ele, pra ter o quê escrever. Isso é engraçado. Tô sentindo falta de ficar só! Pode?

Pode! Ói que pode! Pois bem, cá estou tentando rabiscar, ou melhor digitar algumas letras, que juntas formem palavras, que estas concatenadas resultem em alguns pensamentos e visões de mundo que algum cristão (ou não) tenha vontade e paciência de ler.

E por ordem e graça do destino, desde ontem que entrevisto pessoas que aprenderam a ler agora: ganharam o diploma da alfabetização. É que a pauta das últimas 24h foi a formatura de 2500 alunos do Brasil Alfabetizado. Lá vamos eu, câmera, meu amigo Leco, meu velhinho Teo e o Padre a nos guiar na Doblô vermelho-sangue, rumo a essa tuia de gente. Chegando lá, tudo corre tranquilamente e lá vamos entrevistar as pessoas.

E tome um bando de gente, de tudo que é cor, de tudo que é jeito. Em comum, o nível salarial que não deve passar de 2 salários mínimos por família e o orgulho imenso de estar recebendo o certificado. Agora eles sabem ler. É verdade que uns nem tanto, só assinar o nome. Mas isso pra eles já faz uma diferença imensa, não ter mais que “passar a vergonha de colocar o dedo, minha filha”. Foi isso que Salete me disse, hoje lá no Totó, se bem que ela escreve e lê muito bem.

Salete tem 54 anos, aprendeu a ler nesse último semestre. Os olhos dela marejaram (os meus desde sempre) contando como ela estava feliz recebendo aquele diploma e como ela ficava orgulhosa de pegar um ônibus sozinha, de saber ler Curado-Caxangá, de não depender mais de ninguém. Contou da primeira carta que escreveu pras filhas e como elas ficaram orgulhosas dela. De que rasgou todos os documentos "de dedo" e tirou tudo de novo só pra ter lá seu nome assinado. De ser livre e de não ser mais cega, de poder ver um mundo diferente.

Salete quer ser promotora. Salete não acha que é tarde, ela anda pra frente com um ar triste de quem sofreu muito, mas com um brilho no olhar de quem ainda tem muita esperança. Salete aprendeu agora a escrever algumas letras, que juntas formam palavras, que estas concatenadas formam sonhos. Bem-vinda Salete ao mundo das palavras. E uma ótima primeira série para você.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Cheguei


Já faz tanto tempo que não atualizo que cheguei foi logo em dois lugares. Em Santiago e, 3 dias depois, na minha casa!! Alegria dupla.

Chegar em Santiago é, é, é.... E aí eu nao consigo escrever nada! Sei lá, dá um sentimento de vitória e dá também um vazio. As flechas amarelas se acabam e você chega na catedral. É muito emocionante, mas acaba. É engraçado isso, é que agora você nao tem muito mais o que fazer ali... A minha chegada foi meio mágica porque quando eu tava chegando vou ouvindo a música da Carolina, aquela lá da lagarta, ecoando. Quando vi, era o artista que tava tocando gaita de fole, aí botei logo pra chorar né?

Na catedral, a missa foi linda. O padre vai falando: hoje chegaram 5 brasileiros de Roncesvalles, 2 italianos, 1 português, 5 espanhóis, nao sei quanto franceses e um monte de alemães e por aí vai. Muito lindo. Encontrei a túia de brasileiros amigos e depois da missa fomos comemorar a chegada. Fora os brasileiros tinha mais 1 portugues, 1 italiano, 3 espanholas e etc. Enfim, muito legal.

No outro dia fomos a Finesterre. O famoso fim da terra. Fomos de onibus, claro! Foi engraçado pensar que ali as pessoas chegavam, olhavam e achavam que a terra acabava. Que na linha do horizonte tinha um buraco sem fim. Bem, fica um buraquinho no peito da gente. Acabou-se a caminhada, a farra, o bem bom de celular nao tocar.

Mas também começa tudo novamente, o bem bom da vida da pessoa. Que vidinha boa a nossa né nao? A gente tem aperreio grande nao... Uma cena foi engraçada: quando olhei para o meu guarda-roupa só faltei infartar. Foi como olhar pro albuergue de Roncesvalles, ao contrário, é muita frescura! Ninguém precisa dessa quantidade de roupa nao...

Cheguei, entreguei umas coisas de Alumia (o documentário que estamos finalizando) e aí fui pra Japaratinga com o Nego. Mar, sol, estrelas, noite, lençol, toalha, cerveja grande, lagosta podre de barata na beira da praia... E o meu Nego do meu lado, ao alcance das maos! Que maravilha, aquilo só podia ser o paraíso. Ficamos na beira da praia esperando o dia terminar e as estrelas começaram a se acender, que coisa linda.

No mais tudo começa a voltar ao normal. Domingo almoçar na casa de Mainha, contar as coisas, mostrar fotos, delicia totalis. Ainda no domingo farrao com as amigas, enfim as atividades normais da pessoa. Confesso que na segunda voltar a trabalhar foi difícil, quase pego a seta amarela que eu tava vendo apontando pra fora do trabalho. Eu não acho meu trabalho ruim nao, mas é que férias é bom demais!

É isso meu povo, se der na telha continuio esse blog porque o caminho de Bolinho espero que seja longo, longo. O caminho real é ésse aqui, o da vida real da pessoa. Acho que no de Santiago aprendi a ser uma pessoa mais determinada e simples. E tive contato com outra coisa que foi a fé. To meio CarolA ahahah. Vi o divino em muitas coisas e também to vendo aqui na volta. Na verdade fico vendo o amor e acho lindooo. As coisas mágicas que acontecem no caminho rolam porque você está com o sentidos aguçados. Você está ouvindo, vendo, sentido tudo muito forte. Vou tentar ficar assim espertinho no meu caminho.