domingo, 28 de outubro de 2007

Sonhos

Acabei de ler o Estuariope de Sama, uma crônica ótima que fala sobre sonho. Há algum tempo eu notei, na ante-sala do consultório, durante os cinco minutos que antecedem os 40 que me deito no divã, que eu não tava mais com sonhos. É que ecoava uma música que todos nós ouvimos muito, pelo menos em 80% dos dias das mães nas escolas por aí. Tocava num radinho bem longe, na voz maravilhosa de Milton, Maria Maria. Nela, tem um verso que diz é preciso ter manha, graça, é preciso ter sonho, sempre!

Ai fui lá cascavilhar os meus sonhos e descobri que não tava sonhando! Oxi, Carolina, bebeu gás foi? Foi só o que eu pensei. Como uma pessoa não tem sonhos? Como uma pessoa pode não estar sonhando com nada? Quando eu era pequena, eu sonhava em ser presidente que era pra melhorar a vida das pessoas, não ter pobreza, nem injustiça. Acho que esse sonho era tão difícil que esqueci como se sonhava.

Mas depois da descoberta da falta de sonhos identificáveis na vida, resolvi logo arranjar uma tuia de coisa com que sonhar, e sonhá-las. Sonho com o Pe na Rua, sonho em fundar uma instituição que possa formar ou profissionalizar pessoas, sonhos em realizar meus documentários.

Sonho em ver o meu amor e o do Nego se bulindo em forma de gente. Sonho que essas criaturas possam ser criadas na casa 1 do condomínio que a gente vai construir. Sonho que sempre que puder, vou para Boa Viagem num dia de semana, tomar cerveja e depois continuar tomando cerveja no Bar do Cabo. Sonho em viajar com meus pais e o Nego, sonho em ser madrinha do casamento de Thaís, sonho em ter sempre esses amigos, sonho em nunca sentir angústia nem solidão, sonho em dar tempo de ver um mundo mais justo nessa minha vida que eu sonho, que só se acabe lá bem na frente quando eu tiver bem velhinha. E ainda por cima disso tudo, sonho que os sonhos se realizem sempre com manha e graça!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Uma boyzinha no ônibus

Desde os dezoito que abandonei o bom e velho busão. Como boa filhinha de papai, ao completar a maioridade, herdei o Uno da minha mãe, que, de tanto sofrer na minha mão ficou apelidado de Chacrinha - o velho guerreiro. De Chacrinha pra cá, tive outros automóveis e pegar ônibus virou uma prática em extinção.

Como vocês sabem, há dois anos que juntei meus mijados com o do Nego e na cota dos mijados foram os nossos carros que viraram uma Doblô. Ótima, maravilhosa, espaçosa e que na época das vacas magras salvou a gente porque a alugávamos e seus caraminguados renderam direitinho. Enfim, quando estávamos sem carro, táxi na cabeça. E agora que não a alugamos mais, ficamos eu e o Nego fazendo um balé de horários pra gente sair junto de casa e voltarmos também. Um dando carona ao outro. Hoje o carro é meu, hoje é teu. Enfim, cedendo daqui e cedendo de lá. Exercício diário de casório.

Até que (re) descobri o ônibus. Teve uma belo dia que eu não precisava chegar cedo no trabalho, podia voltar tranqüila da ginástica, ajeitar as plantas, curtir a nossa casinha e depois pegava um ônibus. Tinha acabado de ler a crônica de Samarone (no maravilhoso www.estuariope.blogspot.com) e me lembrei de como era pegar ônibus. Não tava afins de gastar 10 contos no táxi e resolvi gastar apenas 1,60 no busão. Liguei pra minha amiga Alice que me deu as coordenadas rumo ao Estrada dos Remédios. No primeiro dia, passei 40 minutos na parada errada, no segundo ia pegando o ônibus errado, no terceiro de tanto olhar as casinhas e pessoas, pisei no cocô e hoje foi o quarto e deu tudo certo.

O que eu gosto do ônibus é que você vê a cidade. É um momento que você pára, reflete, lê. Lembro que li demais no Engenho do Meio depois da aula no Salesiano. Oxi, eu pegava indo pra cidade que era pra ficar sentanda lendo. Chorei com Morro dos Ventos Uivantes, torci demais pra Olga Benário se safar, viajei para Macondo com todos os anos de solidão... Isso além de rir, eu morro de rir no ônibus.

Hoje mesmo a cobradora que já tava voltando pra casa paquerando com o cobrador da vez. Fazendo um trocadilho podre com o brega mais podre ainda que ecoava no sonzinho do coletivo. Sim, tem também o povo com quem você fala. Tem gente que até amigo faz no ônibus.

Confesso que ainda estou tímida. Só foram quatro viagens (a pessoa ser boyzinha é ridículo né?). Não costumo conversar muito com as pessoas não. Sempre dou só um sorrisinho, troco gentilezas, um bom dia, boa noite. É que prefiro ficar assim, meio no idílio. Sem engrenar muito uma conversa, pra depois não me decepcionar, nem me apaixonar. Nunca sento do lado. Prefiro ficar na liberdade da imaginação. Sim, liberadade é o que há de melhor em pegar ônibus.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Carta de papel

Desde o último dia 19 que o meu cotidiano tem estado um tanto quanto revirado. É que meus pais viajaram e tive que voltar ao que eu sempre chamei de casa. Mas que hoje é a casa deles, não mais a minha. Mas essa questão do que é ou não a minha casa vai em outro post.

Hoje vou falar do amor. Eu, do meu jeito canceriano e melancólico fui remexer na gaveta de lembranças que a minha vó Ignez (sim é com g mesmo), deixou pra meu pai. Ele com todo zelo deixa toda a história dele ali, no pé da cama dele, na gaveta do criado, que é mudo.

Olhando tudo eu achei uma relíquia. A carta em que meu avó Pedro pede voinha em casamento. Do pouco que consegui ler, já que papel, diferente de sentimento, esfarela, ficou uma grande frase: “ hoje uma única corrente que me traz prisioneiro: és tu”. Eita valei-me que coisa linda (eu mesma achei). Há quem ache piegas, mas o amor é piegas mesmo.

A carta, de 12 de janeiro de 1942, data em que meu avô tinha sessenta e a minha avó trinta (uma solteirona para a época) é um pedido de perdão e uma jura de amor eterno. É que pelo que entendi, ele já tinha falado a ela que estava apaixonado, alguém entrou no meio e fez uma fofoca e ela entendeu como uma afronta. Realmente a bicha era braba. Mulher arretada. Do norte, quase nordestina. Bem, é com essa carta que ele tenta explicar melhor as coisas e diz que um dia a verdade vai vingar e que neste dia “o sol da realidade vai aquecer os nossos corações”.

E depois dessa carta minha avó viveu com ele, tiveram 3 filhos – Pedro, Paulo e José. Pense que açaí é o que pode haver de melhor para a vitalidade masculina já que meu avô gerou meu pai aos 72anos! Eles viveram juntos por quase vinte anos, até o dia em que uma pneumonia levou ele. E ela ali, cuidando e velando.

E tudo começou com essa carta. Que hoje essa neta, um tanto quanto piegas, retrata aqui nesse blog. As coisas podem até ser modernas, mas olhar a letra do meu avô nessa carta, pensar nele escrevendo, nela lendo e tudo o que aconteceu depois... Não tem modernidade que chegue.

Vou nessa ler as outras cartas escritas que têm aqui e vou escrever uma carta em papel pautado para alguém e mandar pelo correio. Simples.