sexta-feira, 16 de maio de 2008

Antes Jacaré, agora coisa de novela


Eles moravam no canal. Isso. Alguns na beira e a maioria dentro. Isso. Dentro do canal. Eles não sabiam o que era conta (de luz e de água), mas também a única água que chegava lá era a do canal quando ele subia. Junto com a água: cocô, cobra, escorpião rato e tudo mais. De vez em quando tinha bebê que caía no canal e morria afogado. Isso, morria. Isso mesmo, um bebê.

Agora eles moram num duplex com sala, cozinha, banheiro e dois quartos. Agora água, só encanada. Mas também a conta vem. Eles acham que está tudo bem melhor e estão sonhando que agora com esse danado desse endereço, fique mais fácil subir na vida, ter um emprego e ser feliz.

O nome do lugar é Jacarezinho, mas por conta da televisão, já foi auto-nomeada da Portelinha. As bocas são duas: uma maior e outra menorzinha. Agora pra comprar droga tem asfalto até a frente do duplex. Coisa chique. Até pra vender droga melhorou.

O sábado na Portelinha é festa. Alegria, cerveja, som alto, briga de garrafa, bêbados, crianças jogando bola e andando de bicicleta. Sim, meninas pulando elástico. Eles parecem felizes. Dos que entrevistei, o rosto está mais brilhoso. Tudo isso porque agora tem direito à moradia.

Aquilo que o as pessoas tem direito. Habitação, saúde, educação... Enfim. O Governo não fez mais do que sua obrigação, ainda bem que fez, é verdade. Outro dia ouvi na radio um advogado dizendo: a lei é ótima, dá até pra cumprir. Quem pode com isso?