sexta-feira, 12 de março de 2010

Como o Capibaribe

Meu Tio, aquele que é o cara, aquele que tava doente que eu falei em um post abaixo. Pois é, a Caetana veio mesmo e levou ele. Antes da foto esperada, mas o tempo suficiente de um sofrimento que parecia sem fim. Foi no final de fevereiro. Durante todo o mês fiquei indo lá, dando massagem nos pés, ouvindo os últimos conselhos, ganhando os últimos sorrisos. Só isso já valeu a pena.

As pessoas diziam para não ir, que era muito para mim e para a pequena Inês aqui dentro. Mas eu não podia deixar de viver aquilo. Não poderia deixar de ajudar e principalmente deixar de sentir e dar amor. Um amor que transborda isso que é a palavra. Um amor que tá lá no fundo do olho, num brilho de segundo, num sorriso de satisfação, no suspiro pós pontada de dor. No toque que é na mão, mas chega mesmo é na alma.

Sei que Inês sentiu isso profundamente. Sei que sentiu tristeza mas que também sentiu um amor profundo. E num domingo, a respiração parou em um hospital da cidade. No mesmo domingo nascia Alice, filha de Mari Asfora. E eu soube disso passando pela ponte, sobre o Capibaribe. Olhei pro rio, que seguei seu fluxo. Chorei de tristeza, de alegria, mas entendi o essencial: assim como o rio, a vida segue seu rumo e não dá pra nadar contra a correnteza. Vamos nessa transbordar isso que a gente é na imensidão do mar.

De sequela física, a pressão subiu e estou de repouso absoluto. Já fizemos muitos exames e está tudo ótimo com ela. Estamos aqui deitadinhas esperando a hora. Esperando para termos parto normal (ou pelo menos tentarmos).


Dona Cila
Maria Gadú

De todo o amor que eu tenho
Metade foi tu que me deu
Salvando minh`alma da vida
Sorrindo e fazendo o meu eu

Se queres partir ir embora
Me olha da onde estiver
Que eu vou te mostrar que eu to pronta
Me colha madura do pé

Salve, salve essa nega
Que axé ela tem
Te carrego no colo e te dou minha mão
Minha vida depende só do teu encanto
Cila pode ir tranquila
Teu rebanho tá pronto


Teu olho que brilha e não para
Tuas mãos de fazer tudo e até
A vida que chamo de minha
Neguinha, te encontro na fé

Me mostre um caminho agora
Um jeito de estar sem você
O apego não quer ir embora
Diaxo, ele tem que querer

Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um banto a ela, que ela me benze aonde eu for

O fardo pesado que levas
Desagua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim

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