domingo, 18 de abril de 2010

O parto

Hospital Santa Joana, 26 de março de 2010
8h - Uma noite mal dormida, uma ansiedade absurda. Mistura de medo, de alegria, de alívio... Lá vem o pipoco do trovão! O maior amor do mundo. Para isso, vou fazer uma cirurgia. Coisa que nunca fiz na vida. Dá um medinho aliviado porque quero logo conhecer você. O Nego parece (só parece) tranquilo, suas avós estão loucas, seu avô também. Antes de sair de casa, fotografei o bucho. Último registro da sua estrada dentro de mim.

11h - Os médicos já vieram aqui. Estão todos prontos. A anestesista me explicou tudo. Onde vai me furar, todo o procedimento. Aviso que quero ficar consciente, quero ver tudo. Ok. Seu avô tá conversando o tempo todo. Conversas amenas para minar o nervoso. Bata cirúrgica, fotografias finais. Bora nessa, o Nego vai com a gente.

12h - Bloco cirúrgico, fura aqui, senta assim, fura acolá. Respiro e me concentro para ficar calma, Já não sinto as pernas, pode cortar! O Nego aqui junto. E aí já começou? O rosto tá coçando, é reação à morfina. Tô ficando tonta, ai ai. Oxigênio pra aliviar. E aí?

12h39 - Chegou, olha ela! É galega! Uêêê. Um choro alto, eis que você surge do pano azul. Colocam você perto de mim, você se acalma, sinto a sua pele. Um veludo. Ufa, parece estar tudo bem. Oi filha, seja bem vinda. Eu sei que você sabe, mas eu sou sua mãe. Vamos seguir juntas nessa vida, num caminho gostoso como o veludo da sua pele. Fico feliz que você me reconhece, que se acalma com o meu toque. Estou aqui filha, pra te proteger, pra te amar... Te levam pros procedimentos iniciais. Fico sentindo a sua pele. Ai que alívio, tá tudo certo. O Nego tá aqui. Nós 3. Sua família, nosso amor.

Alguns minutos e muito choro seu depois - Oi, você novamente, que bom. Dr. Zé Henrique veio te colocar no meu peito. Venha, ele é todo seu. Que linda que você é, toda perfeitinha, sua deliciosa pele de veludo, seu carinha amassada, o meu sangue ainda em você. Pronto levaram você novamente.

+ ou - meia hora depois - As médicas conversam potoca enquanto terminam o procedimento. Eu estou meio não sei que lá. Mistura da anestesia com você. As médicas terminam e vão embora. Beijos, parabéns, ela é linda e tchau. Ficamos eu e uma enfermeira na sala vazia.

À tarde, sem noção da hora - voltei para o quarto. Muitos beijos, abraços, e eu não posso falar. Ninguém me deixa falar. Cadê você que não chega. Sono, rostos conhecidos. Tô meio grogue. Você chega, vem pro peito, pega um pouco. Vai pro berço. Todos vem te ver. Você é lindamente rosa... E assim o dia segue, entre você, o peito, o povo e não poder falar...

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